Mas não foi um fim de semana fácil para o certame promovido pela Dorna. Embora seja uma região de clima desértico, com média de 8,8 dias de chuva por ano, o clima não foi parceiro do Mundial no último fim de semana, forçando o cancelamento dos treinos classificatórios de sábado e tumultuando o início da corrida da MotoGP no domingo.
No Mundial desde 2007, o circuito de Losail é um traçado novo, mas, ao que parece, esqueceram de direcionar parte dos US$ 58 milhões (cerca de R$ 182 milhões) investidos em sua construção para preparar um bom sistema de drenagem. Com chuva forte, o traçado catari é impraticável. De dia ou de noite. Não havia muito o que fazer em um cenário tão atípico.
MotoGP abriu temporada 2017 no Catar (Foto: Repsol) |
Antes de falar especificamente sobre o GP do Catar, vale uma ressalva: o grid de 2017 da MotoGP é especialmente forte. São dez campeões mundiais reunidos, somando um total de 29 títulos, um novo recorde para a categoria.
Além disso, nove dos 23 pilotos somam triunfos na classe rainha, totalizando 197 vitórias — sem contabilizar a de Maverick Viñales em Losail —, o maior número acumulado na divisão principal na lista inicial de inscritos.
Como se isso não fosse o bastante, 20 desses pilotos tem ao menos uma vitória em uma das três classes do certame, um total combinado de 434 triunfos.
Novo alien?
Maverick Viñales teve a estreia dos sonhos a bordo da YZR-M1. Depois de dominar a pré-temporada, o #25 desembarcou no Catar cercado de expectativa e não decepcionou.
Pole-position em Losail depois de registrar a melhor marca no resultado combinado dos três treinos livres, Viñales teve um início de corrida discreto, ainda estudando as condições da pista modificadas pela chuva intermitente, mas quando partiu em busca da ponta, atuou como um verdadeiro Top Gun.
Precisa e inteligente, a performance de Maverick não chega a surpreender. Afinal, o piloto de Figueres já tinha demonstrado suas qualidades nas classes menores e também em sua passagem pela Suzuki. Além disso, Viñales também não fez uma mudança difícil. A M1 é conhecida por ser uma moto amigável, fácil de guiar.
Maverick chega à Yamaha pronto para brigar pelo título da MotoGP, confortável com o rótulo de favorito e prontinho para cavar sua vaga no time dos ‘aliens’ da classe rainha.
Johann Zarco liderou a MotoGP em sua estreia (Foto: Repsol) |
O que foi a estreia de Johann Zarco na MotoGP? Ok, o bicampeão da Moto2 não completou a corrida, mas controlou a prova por cinco voltas. Em sua estreia!
Assim como Jonas Folger, seu companheiro de Tech3, Johann já tinha mostrado bom ritmo na pré-temporada, mas nem os mais otimistas imaginariam uma estreia assim.
O #5 tem nas mãos uma ótima moto, amigável, fácil de guiar. E tem talento o suficiente para seguir impressionando.
A atuação de Zarco em Losail foi tão impressionante que rendeu até elogios dos homens do pódio. Valentino Rossi, por exemplo, contou que já tinha sido alertado sobre as qualidades de Johann.
“Eu esperava que Zarco estivesse na frente, mas não assim. Também foi meu pesadelo durante os testes de inverno, porque ele estava sempre na frente”, brincou o #46. “Eu estava curioso em relação à performance dele na MotoGP, porque trabalhamos com Franco Morbidelli no ano passado e ele contou que Zarco sempre fazia algo especial na Moto2, especialmente nas últimas dez voltas. E ele sempre me disse: preste atenção, porque ele será rápido também na MotoGP”, contou.
Alive and kicking
Valentino Rossi tem mais de 20 anos de experiência no Mundial de Motovelocidade, mas sempre tem que se surpreende com a capacidade do italiano de tirar uma carta da manga na última hora.
O multicampeão fez uma pré-temporada ruim e arrastou problemas para a primeira prova do ano. Em Losail, a experiente equipe do italiano conseguiu solucionar algumas dificuldades, mas encontrou outras pelo caminho. O cancelamento dos treinos de sábado foi um prejuízo importante, já que ainda tinha muito trabalho a ser feito.
O warm-up aumentado, por sua vez, também pareceu ter feito pouco pelo italiano, mas a mudança nas condições permitiu que Rossi fosse mais competitivo e abrisse o ano com um terceiro lugar.
Claro, a boa atuação na etapa catari não garante a solução dos problemas encontrados até aqui, mas a capacidade de Valentino está mais do que provada. Aos 38 anos, o titular da Yamaha segue em forma e ganhou uma dose extra de motivação.
Viñales não será uma tarefa fácil. Márquez também não. Mas Rossi não jogou a toalha.
Marc Márquez sofreu com o pneu dianteiro. Andrea Iannone foi ao chão (Foto: Repsol) |
Errou no calçado
Marc Márquez teve uma atuação apagadinha em Losail, mas segue como forte candidato ao título. O #93 mudou sua escolha de pneus seguindo uma orientação da Michelin após a redução no número de voltas do GP, mas acabou pagando um preço por isso.
Por conta das dificuldades de aceleração da RC213V — que ficaram claríssimas em Losail —, os pilotos da Honda tentam compensar o tempo perdido na freada, o que acaba por gerar um desgaste maior no pneu. Marc sempre prefere o composto mais duro na dianteira, mas trocou para um pneu mais macio ao ser alertado pela Michelin que era o único com tal escolha e, assim, deveria tomar cuidado.
A troca, no entanto, acabou sendo mais prejudicial do que qualquer outra coisa, já que o pneu foi rapidamente consumido, deixando o espanhol sem muito o que fazer.
Nos testes, porém, o tricampeão da MotoGP mostrou ter um ritmo similar ao de Viñales e, tão logo a Honda se acerte de vez com a nova RCV, será um fortíssimo rival.
Viñales, Dovizioso e Rossi formaram o pódio (Foto: Yamaha) |
Uma das melhores performances do domingo certamente foi a de Aleix Espargaró. Estreando com a RS-GP, o catalão deu à Aprilia seu primeiro top-6 na era da MotoGP.
Ainda em evolução, a Aprilia mostrou um importante passo à frente em 2017 e, nas mãos de Aleix, deve avançar ainda mais.
Animado ao fim da corrida de Losail, Aleix teceu vários elogios à RS-GP, especialmente no que diz respeito à tração. A moto de Noale ainda tem muito que melhorar, mas deve incomodar uns e outros ao longo do caminho.
Mas foi estranho ver Espargaró no parque fechado com o rótulo de melhor piloto independente. Como assim?
Ao contrário da KTM, por exemplo, que entrou sozinha no Mundial, a Aprilia o fez em parceria com a Gresini, ocupando a vaga do time de Fausto Gresini, o que gerou essa situação esquisita. Mas, independente do rótulo, o esforço é de fábrica mesmo.
Aleix Espargaró foi ao parque fechado com rótulo de independente (Foto: Michelin) |
Jorge Lorenzo não teve a estreia dos sonhos na Ducati. O #99 teve uma atuação discretíssima no Catar e recebeu a bandeirada em 11º, mais de 20s atrás de Viñales e de Andrea Dovizioso, seu companheiro de equipe.
Com tal resultado, o saldo é mesmo negativo, mas é cedo para desespero. Ao contrário de Viñales, que pegou uma moto amigável, Lorenzo ainda tem de domar um touro rebelde. O #99 precisa moldar seu estilo a Desmosedici, uma vez que já ficou mais do que provado que a moto de Bolonha não se ajusta a ninguém.
Lorenzo vai precisar de mais tempo para se sentir em casa em Borgo Panigale, o que pode ser fatal na briga pelo título, mas está longe de ser o fim do mundo. Ao menos por enquanto.
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