Nas 12 corridas disputadas até, foram sete vencedores diferentes — Jorge Lorenzo, Marc Márquez, Valentino Rossi, Jack Miller, Andrea Iannone, Cal Crutchlow e Maverick Viñales. E não é só isso. Essa variação foi registrada em um intervalo de sete corridas.
Até aqui, a maior sequência de vencedores diferentes tinha sido registrada entre o fim da temporada 1999 e o começo da 2000. Na época, também foram sete os pilotos que se sucederam no topo do pódio: Alex Crivillé, Regis Laconi, Taddy Okada, Max Biaggi, Norick Abe, Kenny Roberts e Garry McCoy.
Mas é um fato inédito em uma única temporada. Além disso, destes sete vencedores de 2016, quatro viram a classe rainha do degrau mais alto pela primeira vez — Miller, Iannone, Crutchlow e Viñales.
MotoGP vive um excelente momento de sua história (Foto: Yamaha) |
2006 também tinha marcado a última vez em que duas corridas foram vencidas por times satélites (Marco Melandri e Toni Elías, ambos pela Gresini). Agora, o feito foi repetido por Miller — Marc VDS — e Crutchlow — LCR.
Isso, por si só, já é uma mostra do acerto da empresa espanhola. Quando decidiu pela eletrônica padrão, a Dorna conseguiu um jeito de nivelar o mundial, permitindo que os times independentes brigassem perto dos ponteiros.
Claro, Yamaha e Honda seguem sendo forças importantíssimas e de maior destaque no Mundial, mas a Dorna conduziu o certame de tal forma que outras marcas tiveram chance de encostar. A Ducati venceu pela primeira vez desde o fim da era Casey Stoner e a Suzuki voltou ao topo do pódio pouco mais de um ano e meio após retornar à classe rainha.
E além do clima instável deste ano, a mudança de Bridgestone para Michelin também tem relação com o Mundial impecável de 2016. Os pneus franceses têm um comportamento diferente de seus antecessores japoneses e permite aos pilotos uma escolha mais variada.
Após o GP da Grã-Bretanha, Rossi, o mais experiente entre os 21 pilotos que formaram o grid de Silverstone, explicou a nova fase do Mundial.
“Com os Bridgestone, você podia ter uma luta dura, pois podia dar um pouco mais na freada, então quando precisava ultrapassar, podia usar o pneu dianteiro de uma maneira diferente”, disse Valentino. “Mas, por outro lado, neste ano com a Michelin a diferença é que todo mundo pode usar um pneu diferente. Por exemplo, [Dani] Pedrosa tinha macio e macio, e ele é rápido como Márquez, que tinha o traseiro duro. Para mim, isso nivela muito a performance”, opinou.
“E no ano passado, com a Bridgestone, não era assim, pois todo mundo no grid tinha o mesmo dianteiro e o mesmo traseiro, então acho que é por isso que vemos batalhas melhores”, continuou. “E também pela eletrônica, porque acho que a eletrônica no mesmo nível ajuda bastante a Suzuki, ajuda bastante a Ducati, e agora a performance das motos é mais similar”, completou.
Viñales foi um dos novos vencedores de 2016 (Foto: Divulgação/MotoGP) |
Na Moto3, aliás, isso não é um privilégio de 2016. Celeiro de jovens talentos, a categoria menor tem como tradição disputas apertadas, com corridas decididas na linha de chegada e muita gente envolvida na briga pela vitória da primeira a última curva.
Na Moto2, é verdade, isso tinha se perdido no ano passado. 2015 viu provas menos intensas, com o vencedor definido com certa tranquilidade, o que levava o fã a sentir falta daqueles áureos tempos onde Marc Márquez largava em último, engolia um a um e recebia a bandeirada na frente.
Mas neste ano é diferente. A Moto2 recuperou o vigor e, depois da lambança feita por Johann Zarco em Silverstone — com uma manobra um tanto questionável para cima de Sam Lowes —, a briga pelo título voltou a ficar apertada. Agora, o francês da Ajo vai para Misano com apenas dez pontos de vantagem para Álex Rins. É a classe onde a briga pelo título está mais apertada.
Na última semana, alguns questionaram a decisão da Dorna de modificar a programação do fim de semana para evitar o confronto com o GP da Itália de F1. Ao fim das duas corridas, uma dúvida permaneceu: será que era necessário?
A F1, embora vista por muitos como a principal categoria do esporte a motor mundial — pessoalmente, prefiro dividir em automobilismo e motociclismo na hora de falar em principal —, a caçula rica não vive lá seu melhor momento. A luta pelo título está restrita a uma única equipe — a Mercedes — e as demais não parecem ter a menor possibilidade de descontar o atraso em um curto intervalo de tempo.
Johann Zarco tem talento também no backflip (Foto: Ajo) |
E esse mundo comandado pela Dorna é muito mais do que disputas intensas e competitividade. Em suas três categorias, o Mundial é repleto de personagens. Na Moto3, são pilotos jovens que fazem e falam bobagens típicas da idade. Na Moto2, um campeão vigente falante e habilidoso na hora de executar seus backflips da vitória. Na MotoGP, temos astros para todos os gostos.
Expoente dessa geração de pilotos ‘saidinhos’, Rossi não faz mais as celebrações que marcaram sua carreira, mas ainda é um rei de caras e bocas, sempre capaz de render uma boa foto. Crutchlow, por sua vez, é um jovem pai de família, preocupado em ligar para a esposa assim que chega ao parque fechado para celebrar seus feitos em família. Márquez vive sorrindo e é o herói das criancinhas — basta ver a quantidade de fãs mirins que o cercam nos paddocks mundo a fora.
Mas a fofura não está só entre esses que já fazem parte do rol dos vencedores. Scott Redding apareceu em Silverstone com um macacão inspirado no traje do Super-Homem. Danilo Petrucci chegou contando sobre um acidente de trânsito onde o senhor que o acertou por trás quando ele estava parado em um cruzamento a bordo de uma scooter o questionou: “Tem certeza que você sabe dirigir?”. A scooter era nova e do pai do piloto.
E tem também Iannone. Se você ainda não entendeu o apelido de ‘Maniac’ ou ‘Crazy Joe’, experimente dar uma passadinha no Instagram do italiano, onde o piloto da Ducati postou um vídeo mostrando o que acontece quando ele tranca seu Porsche com a chave dentro. Ao que parece, Andrea nunca ouviu falar em chaveiro...
O Mundial de Motovelocidade vive uma excelente fase, dentro e fora da pista. E em todas suas divisões. E essa qualidade se reflete no público dos autódromos, na audiência da televisão e na repercussão nas redes sociais.
Daqui 20, 30, 40 ou 50 anos, hão de se referir a esta como a era de ouro do motociclismo.
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