quinta-feira, 30 de maio de 2013

Chutando o balde

Cal Crutchlow, mais uma vez, deixou clara sua frustração com o interesse da Yamaha em Pol Espargaró. Falando aos jornalistas em Mugello, palco do GP deste fim de semana, o britânico deixou claro que pode deixar a Tech3 no fim da temporada 2013 – quando termina seu contrato com o time de Hervé Poncharal – caso a Yamaha ofereça ao novato um contrato melhor do que o dele para o atual piloto da Pons na Moto2.

Crutchlow, que conquistou o melhor resultado de sua carreira na etapa passada, com um segundo lugar no GP da França, deixou claro que quer seguir na Tech3, mas desde que tenha um contrato direto com a Yamaha, o que o colocaria em uma posição mais próxima do equipamento que é oferecido a Jorge Lorenzo e Valentino Rossi – ambos com contratos válidos até o fim da temporada 2014.

A situação de Cal é bastante delicada, especialmente porque a segunda moto da Tech3 é de Bradley Smith, cujo vínculo empregatício também termina no fim da próxima temporada.


Crutchlow voltou a afirmar que a Yamaha já fechou com Espargaró (Foto: Bridgestone)

“Até onde eu sei, eles assinaram com o Pol. Isso não é da minha conta e eu não me importo, mas se tem uma coisa que eu tenho certeza é que eu não vou ficar abaixo do Pol no meu time”, assegurou. “Então eu saio, isso é claro.”

“Mesmo que eu tenha a opção de seguir lá, não ficarei se não tiver um contrato de fábrica e eu não tenho”, falou. “A minha situação é que eu quero estar na Yamaha e eu quero pilotar para o mesmo time, mas se estão dando um contrato de fábrica, acho que eu mereço mais do que ele”, opinou.

Na visão de Crutchlow, quem pode falar sobre essa situação é Lin Jarvis, o chefe da Yamaha. “A melhor pessoa para perguntar sobre toda essa situação é Lin. Está tudo nas mãos dele”, apontou. “Os japoneses seguem o que ele diz e o motivo de ele querer assinar com Pol é uma escolha dele.”

“No momento, não estou muito preocupado. Ainda estou determinado e motivado, mas não vou pilotar para a Yamaha abaixo do Pol. Meu claro interesse é ficar onde estou com um contrato melhor do que o que eu tenho agora”, reforçou. “Como Hervé disse, me ofereceram um contrato de dois anos para evitar esta situação, mas eu estaria em uma posição pior, porque ele não assinou um contrato com uma fabricante. Como eu vou saber se ele não vai dizer que não temos nada, então não vamos correr?”, questionou.

“Ou se ele disser que eu tenho de guiar uma CRT ou algo assim. Não estou muito preocupado e a minha relação com Hervé é mais forte do que nunca, mas tem algumas coisas que estão na minha cabeça”, seguiu.

“Quero correr neste campeonato, mas onde eu não sei. Tenho um grande interesse em estar aqui e é isso que quero fazer, mas não serei tratado como um idiota e acho que estou certo. Não estou preocupado com o pacote, porque sei que o que eu tenho é bom”, comentou.

Questionado se estava sendo tratado como idiota, pois a Yamaha ofereceu um contrato melhor para Pol, Cal retrucou: “É claro que estão, porque o que mais eu posso fazer para garantir algo, além do que estou fazendo no momento?”, perguntou.

“Com toda honestidade, o que o Pol fez? Ele bateu Marc [Márquez] no ano passado em uma moto que era duas vezes melhor que a do Marc”, citou. “Não tenho nada contra Pol. Ele é um ótimo piloto e, em alguns anos, vai estar na frente na MotoGP, mas isso não é problema meu.”

“Se a Yamaha assinar com ele, não posso fazer nada a respeito, e se eles viram algo nele, é a escolha deles. Não vou ficar muito satisfeito, mas não posso fazer nada a respeito”, declarou. “Não fiz nada errado, mas a melhor pessoa para perguntar [a respeito] é Lin. Posso estar nesse campeonato em um bom lugar, mas, no momento, não sei onde.”

Apesar do interesse da Yamaha, Pol não começou bem o ano na Moto2 (Foto: Pons)


Em uma recente entrevista ao site britânico ‘Motorcycle News’, Jarvis admitiu o interesse da Yamaha em Espargaró e afirmou que a dupla da Tech3 para 2014 será definida mais para frente.

“Claro que a Yamaha tem interesse em Pol. Ano passado tinham dois pilotos que se destacavam na Moto2 e Pol era um deles”, lembrou. “Eu não gostaria de ver Cal sair. Nós precisamos de um grupo forte de pilotos rápidos e Cal é, definitivamente, um deles. Nós também gostamos do jeito dele. Às vezes ele é um pouco sincero, mas isso é parte do charme dele e tem um bom apelo, então eu não gostaria de ver Cal deixar o projeto”, defendeu.

“Soube por Hervé que Cal expressou um forte interesse em ficar, mas nós não vamos colocar três motos com especificação completamente de fábrica no grid e isso é algo que não vai mudar no próximo ano”, assegurou, explicando que a dupla da Tech3 será definida mais para frente, entre a Poncharal, os pilotos e também Iwata.

Também à publicação, Poncharal elogiou a atuação de Crutchlow, lembrando que ele é único que regularmente consegue ficar entre os quatro grandes do Mundial – Dani Pedrosa, Márquez, Lorenzo e Rossi.

“Eu adoraria ter a chance de manter Cal conosco, porque ele traz muito ao time. Acho que haverá a possibilidade”, avaliou. “Estou mais preocupado em saber se Cal realmente vai querer ficar ou se ele vai tentar ver outras opções. Nós sabemos que a Ducati pode ter uma vaga em aberto e sabemos que a Suzuki pode voltar”, completou.

No ano passado, Crutchlow chegou a negociar com a Ducati, mas acabou preterido em favor de Andrea Dovizioso. No caso da Suzuki, a marca nipônica ainda não se pronunciou sobre os pilotos que pretende alinhar, mas Cal aparece na lista de candidatos, inclusive sendo apontado como o favorito em pesquisas de opinião com os fãs da MotoGP.

No geral, a situação de Crutchlow não é boa. A Yamaha, apesar da bela história construída especialmente após 2004, ainda é uma fábrica pequena – em comparação com a Honda – e não tem o mesmo potencial de investimento da rival.

É óbvio que a Iwata tem interesse em um jovem piloto. A carreira de Rossi está perto do fim, Lorenzo já falou uma ou duas vezes que não sabe mais por quantos anos seguirá em atividade e a fábrica não pode arriscar desperdiçar todo o investimento que fez, não tendo um piloto pronto para assumir o papel de líder da equipe.

A Yamaha, claramente, tem de olhar para o futuro, mas isso não significa descartar Crutchlow. O problema é que ele está entrando em rota de colisão com os japoneses, o que pode não ser visto com bons olhos.

No fim das contas, a pergunta que fica é: quem deu um contrato de dois anos para Bradley Smith?

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